sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Infecção
O cansaço de Clarice era indescritível. Seus pés estavam machucados e pesavam como duas bolas de ferro; Suas pernas tinham pequenos cortes, provocados pelas estruturas afiladas das plantas da floresta; Seu braço sangrava, graças à um daqueles desgraçados; E apesar disso tudo, ela não podia parar.
Enquanto esforçava-se para continuar acordada e correndo, lá atrás, talvez pouco mais que dez metros, os urros daqueles monstros -verdadeiros demônios saídos do inferno- misturavam-se ao barulho dos mesmos pisando o solo e ao som dos animais: a melodia perfeita para levar alguém à loucura. Clarice tentava apressar-se, mas seu corpo não obedecia. Monstros malditos! Feitos de carne podre e, ainda sim, conseguiam correr tanto ou mais do que ela. Olhou ao redor, procurando um esconderijo, mas não achou nada. Ela sabia que, se eles a pegassem, ela morreria, ou pior: tornaria-se um deles.
De repente, o som de um tiro; então, um deles cai no chão. Logo, uma saraivada de balas cortava a floresta, derrubando dezenas deles. Algumas gotas de sangue respingaram no rosto da garota, que limpou-as com rapidez.
- Alguém está aí?- gritou uma voz de homem. Clarice se escondeu atrás de uma árvore e implorou para que não a encontrassem.
- ALGUÉM ESTÁ AÍ?- gritou o homem de novo, dessa vez mais alto. Ela encolheu-se, fechou os olhos e sentou lentamente no chão semiúmido. Segundos depois, o som do gatilho de uma pistola e o impacto de uma bala, ao seu lado; A menina abriu os olhos, assustada, e viu o soldado à sua frente, que se aproximara sem que ela percebesse. Olhava-a com os olhos de um homem que aprendeu a matar sem remorsos.
- Você está viva?- perguntou-a, grave e rudemente. Clarice, perplexa, não respondeu. O homem observou as manchas de sangue em sua roupa e apontou a pistola para a cabeça dela.
- Você está infectada?
Passaram-se dois minutos e ela ainda não havia respondido, então ele segurou seu pescoço, fazendo-a olhar em seus olhos.
- VOCÊ ESTÁ INFECTADA, GAROTA?- a dor do aperto em seu pescoço fez com que a jovem despertasse de seu pequeno transe.
- N-não... - respondeu ela, amedrontada.
- Que sangue é esse na sua blusa?- perguntou o homem, desconfiado.
Ela tentava responder, mas só conseguia mexer os lábios, sem que saísse som algum de sua boca: Estava fraca demais, assustada demais, e ele percebeu isso.
- Me dê seu braço- pediu ele, apoiando-a com seu braço sob o ombro dela. Não haviam andado muito quando ela adormeceu, forçando-o a carregá-la em seus braços. Caminhou em direção ao jeep de fortíssimos faróis, onde mais três soldados- dois homens e uma mulher -esperavam-no. No meio do caminho, observou os cadáveres ensaguentados sobre o chão: pele necrosada, gengivas expostas, órgãos e músculos para fora. Aquelas criaturas pareciam ter saído de um filme de terror.
''Não'', pensou ele. ''Este mundo é que virou um filme de terror. Dos piores.''
Assinar:
Comentários (Atom)