domingo, 12 de janeiro de 2014

Alfabetização

 Não havia feito muito tempo desde que dera o primeiro beijo, mas estava decidido a fazer aquilo. À sua frente, aquele corpo deitado, aqueles olhos ladinos, aqueles lábios provocantes e aquela pele macia, branca como  a neve... seria desonestidade dizer que não estava excitado, pelo contrário: seu sangue fervia e fazia esforço para não afogar-se de uma vez naqueles cabelos e penetrar nos mistérios daquele outro ser... não aguentou.

 Saltou ao lado dela e entregou-se aos beijos, à mão que dançava sobre sua cabeça e aos dedos que acariciavam seu órgão. "Ahhhh... Ahhhh...'', gemia baixinho: a experiência de manipular seu próprio ''brinquedo'' era incomparável à de outra pessoa fazendo-o. Pouco lhe incomodava o suor ou o calor, só importava-lhe ela: ela e seus seios volumosos, ela e seus lábios carnudos, ela e seu lisinho segredo... ela segurou a mão dele e de leve a fez desfilar sobre seu corpo feminino simultaneamente delicado e sensual, até que chegou lá - o lugar secreto, fonte dos delírios e deleites de tantos homens. Ele sentiu seus dedos tocando o que pareciam lábios e então entrar em algo quente e úmido. Mal conseguia raciocinar, tal era sua excitação naquele momento; cada centímetro mais profundo que seus dedos iam e cada carícia que ela fazia em seu rígido falo faziam-lhe percorrer um frio pela espinha, ao mesmo tempo em que seu sangue esquentava.

 Com a permissão dela, subiu sobre seu corpo e beijou-lhe da boca ao umbigo, mas, ao chegar lá - lá, o paraíso dos amadurecidos - não soube o que fazer. Ela então levantou-lhe e sussurrou-lhe algo que o fez corar. Lá estava ele, segundos depois, cumprindo o pedido de sua mestra, rainha, deusa; com sua própria língua, deliciava-se do segredo daquele corpo de mulher, e ela deliciava-se também. Os gemidos dela enlouqueciam-no, estimulavam-no; os movimentos acima e abaixo daquela mão, quase de uma criança, sobre o órgão com tão poucos pelinhos divertiam-na. Ela então levantou-se, ordenou-o que deitasse e retribuiu-lhe o favor: chupou-lhe, lambeu-lhe, deu-lhe  com seus saborosos lábios e língua o prazer que os conhecimentos de menino dele jamais lhe proporcionariam.

 Por fim, o líquido branco, quente e viscoso jorrou, denunciado pela expressão de prazer naquele rosto de garoto. Exausto como estava, ele dormiu logo depois. Ela levantou-se, banhou-se, vestiu-se e, antes de sair, deu uma última olhada no menino, sorrindo. Fora divertido iniciar-lhe nas artes de Eros, mas outras camas a esperavam.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Infecção


 O cansaço de Clarice era indescritível. Seus pés estavam machucados e pesavam como duas bolas de ferro; Suas pernas tinham pequenos cortes, provocados pelas estruturas afiladas das plantas da floresta; Seu braço sangrava, graças à um daqueles desgraçados; E apesar disso tudo, ela não podia parar.

 Enquanto esforçava-se para continuar acordada e correndo, lá atrás, talvez pouco mais que dez metros, os urros daqueles monstros -verdadeiros demônios saídos do inferno- misturavam-se ao barulho dos mesmos pisando o solo e ao som dos animais: a melodia perfeita para levar alguém à loucura. Clarice tentava apressar-se, mas seu corpo não obedecia. Monstros malditos!  Feitos de carne podre e, ainda sim, conseguiam correr tanto ou mais do que ela. Olhou ao redor, procurando um esconderijo, mas não achou nada. Ela sabia que, se eles a pegassem, ela morreria, ou pior: tornaria-se um deles.

 De repente, o som de um tiro; então, um deles cai no chão. Logo, uma saraivada de balas cortava a floresta, derrubando dezenas deles. Algumas gotas de sangue respingaram no rosto da garota, que limpou-as com rapidez.
 - Alguém está aí?- gritou uma voz de homem. Clarice se escondeu atrás de uma árvore e implorou para que não a encontrassem.
 - ALGUÉM ESTÁ AÍ?- gritou o homem  de novo, dessa vez mais alto. Ela encolheu-se, fechou os olhos e sentou lentamente no chão semiúmido. Segundos depois, o som do gatilho de uma pistola e o impacto de uma bala, ao seu lado; A menina abriu os olhos, assustada, e viu o soldado à sua frente, que se aproximara sem que ela percebesse. Olhava-a com os olhos de um homem que aprendeu a matar sem remorsos.
 - Você está viva?- perguntou-a, grave e rudemente. Clarice, perplexa, não respondeu. O homem observou as manchas de sangue em sua roupa e apontou a pistola para a cabeça dela.
 - Você está infectada?
 Passaram-se dois minutos e ela ainda não havia respondido, então ele segurou seu pescoço, fazendo-a olhar em seus olhos.
 - VOCÊ ESTÁ INFECTADA, GAROTA?- a dor do aperto em seu pescoço fez com que a jovem despertasse de seu pequeno transe.
- N-não... - respondeu ela, amedrontada.
- Que sangue é esse na sua blusa?- perguntou o homem, desconfiado.
 Ela tentava responder, mas só conseguia mexer os lábios, sem que saísse som algum de sua boca: Estava fraca demais, assustada demais, e ele percebeu isso.
- Me dê seu braço- pediu ele, apoiando-a com seu braço sob o ombro dela. Não haviam andado muito quando ela adormeceu, forçando-o a carregá-la em seus braços. Caminhou em direção ao jeep de fortíssimos faróis, onde mais três soldados- dois homens e uma mulher -esperavam-no. No meio do caminho, observou os cadáveres ensaguentados sobre o chão: pele necrosada, gengivas expostas, órgãos e músculos para fora. Aquelas criaturas pareciam ter saído de um filme de terror.

 ''Não'', pensou ele. ''Este mundo é que virou um filme de terror. Dos piores.''